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O ano de 2024 marca uma década desde a primeira apresentação de obras de tempo e lugar específicos criadas por Dan Lie em instituições de arte. Devido à transformação da matéria ao longo do tempo e à ação de seres além-humanes, estas instalações, ao final de seus períodos expositivos, deixam de existir fisicamente, tornando-se o que Lie chama de “obras que vivem e morrem”.
Ao longo dos anos, os elementos remanescentes destas obras, que não perecem – como vasos de cerâmica e tecidos de algodão tingidos naturalmente com cúrcuma – vêm sendo resgatados e utilizados como material base para o desenvolvimento de novas esculturas.
A prática de tingimento natural dos tecidos teve início em 2018, mas ganhou nova dimensão em 2022 com a apresentação da instalação “Sociedade Secreta do Luto” na 58ª Carnegie International, em Pittsburgh, EUA. No processo criativo destas obras, Lie estabeleceu um paralelo conceitual com o luto – durante o luto, precisamos reelaborar nossos sentimentos em relação a alguém ou algo que morreu. Aqui, as esculturas são a reelaboração de uma instalação que já não existe mais.
As tentativas e aprendizados de lidar com o movimento, mudanças e impermanência têm orientado a prática de Dan Lie. No caso da criação de esculturas, o processo criativo foi confrontado por um embate ético, uma vez que a mudança da matéria não ocorre na mesma velocidade que nas instalações efêmeras.
O Studio Dan Lie adota uma política de não acumulação e de não possuir espaços físicos para armazenamento de obras de arte. Em 2023, iniciou-se um processo para integrar esse novo corpo de obra à filosofia da impermanência, estabelecendo um prazo de 05 anos, a partir da data em que a obra é exposta pela primeira vez, para que as esculturas sejam adquiridas por coleções de arte.
Caso sejam adquiridas, as obras ficarão sob a guarda dos colecionadores por tempo indeterminado. Caso contrário, após cinco anos desde sua primeira exibição, as obras retornam ao Studio Dan Lie, para serem transformadas em outras obras ou destruídas.
A exposição na galeria Casa Triângulo apresenta obras com prazos limite em 2024, 2028 e 2029. As obras inéditas que vão até 2029 foram criadas com os restos mortais da instalação “Outres”, que fez parte da 35ª Bienal de São Paulo, em 2023. Após o término desta instalação, restaram apenas testemunhos, como fotografias, um vídeo registro apresentando momentos da existência desta obra efêmera e esculturas inéditas feitas a partir dos tecidos que envolviam a obra.
A escolha das obras para esta exposição reflete o percurso na produção de esculturas de Dan Lie e o processo de continuidade e ressignificação da matéria como parte integral do fazer escultórico. A obra “Memory Stick” (2015), por exemplo, produzida para a primeira exposição individual de Dan na galeria Casa Triângulo, é novamente apresentada e destacada como ponto de partida dessa produção.
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Dan Lie, 1988. Vive e trabalha em Berlim, Alemanha. Dan Lie é formado em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista. Exposições individuais selecionadas: Daniel Lie: Unnamed Entities, curadoria de Bernardo Mosqueira, New Museum, Nova York, EUA (2022); Scales of Decay at Küenstlerhaus Bethanien, Berlim, Alemanha (2021); Sopro/Sigh/Hauch — Park Platz at Berlinische Galerie Museum für Moderne Kunst, Berlim, Alemanha (2021); Toko Buku Liong at CEMETI - Institute for Art and Society, Região Especial de Joguejacarta, Indonésia (2020); Os Anos Negativos na Jupiter Art Land, Edimburgo, Escócia (2019); Supremacia Humana: O Projeto Falido, Casa do Povo, São Paulo, Brasil (2019); Filhxs do Fim na Casa Triângulo, São Paulo, Brasil (2018); Até onde você pode descer?, Change-Change, Budapeste, Hungria (2016); Pacto com o Futuro, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil (2015); e Lie Liong Khing, Casa Triângulo, São Paulo, Brasil (2015). Exposições coletivas selecionadas: Composições para tempos insurgentes at Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil (2021); Brasilidade Pós-Modernismo at CCBB Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil (2021); Metabolic Rift at Kraftwerk Berlin, Berlim, Alemanha (2021); À Construção, Solar dos Abacaxis, Rio de Janeiro, Brasil (2020); Espacios Revelados, Bucaramanga, Colômbia (2018); Valongo - Festival Internacional da Imagem, Santos, Brasil (2018); O Sol nos Ensina que a História Não é Tudo, curadoria de Raphael Fonseca, Osage Art Foundation, Hong Kong, China (2018); Queermuseu – Cartografias da Arte Brasileira, curadoria de Gaudêncio Fidelis, Santander Cultural, Porto Alegre, Brasil (2017); e Welt Kompakt? – Out of Brazil, curadoria de Ursula Maria Probst, Viena, Áustria (2017).