-
avaf (assume vivid astro focus) possui um lugar peculiar nas histórias recentes das artes visuais no Brasil e no mundo. Atuando como um coletivo cujas integrantes se transformam de acordo com os projetos, sua pesquisa é absolutamente pautada na ideia de experimentação e na resistência das muitas comunidades queer. De suas primeiras experiências nos Estados Unidos, que tomavam espaços internos de galerias e museus, passando por intervenções feitas diretamente em rinques de patinação até projetos mais recentes como suas tapeçarias dançantes, o avaf mantém uma equação artística pautada no encontro entre a ideia de ambiente, a expressividade da cor e a afirmação do prazer.
Qualquer mídia pode ser articulada em seus projetos; essencial, contudo, é nunca deixarmos de lado uma relação com a imagem que está para além da visão. É em nossos corpos – compostos por infindas formas, identidades, anseios existenciais, delícias e traumas – que as experiências sugeridas pelo avaf começam e terminam. É a lembrança daquela sensação do suor escorrendo pelos nossos queixos – seja por medo, seja por prazer – que é estimulada em seus trabalhos.
alterações vividas absolutamente fantasiosas é um ensaio retrospectivo que toma os papéis de parede do avaf como elemento central. Presente desde seus primeiros projetos, essa maneira de cobrir longas superfícies nunca se repete – utilizando palavras, criando padrões abstratos que ditam um ritmo ou mesmo se apropriando de ícones da cultura pop, as imagens de grande escala que tomam o espaço do Sesc Avenida Paulista abraçam o público. Esta ocupação é pautada por colagens de imagens que remetem ao desenvolvimento das tecnologias digitais que, desde 2001, quando o coletivo foi criado, possibilitam manipular e intervir graficamente sobre imagens. Também lidando com a noção de colagem digital, mas por meio do vídeo, uma série de trabalhos de diferentes momentos de seu percurso transforma áreas da exposição em algo entre o peep show e a pista de dança.
Neste labirinto, só um verbo nos guia: perder-se. Que nossos corpos esqueçam a contagem do tempo e, assim como o título desta exposição o faz, que saiamos do Sesc criando novos sentidos para essas quatro letrinhas – avaf – que, juntas, causam tanto.
Raphael Fonseca
-
-
-
-
-
-
-
-
-