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ALBANO AFONSO
(SÃO PAULO, BRASIL, 1964)Albano Afonso produz em suas obras uma reflexão sobre a tradição da história da arte. Seus trabalhos partem dos gêneros e temáticas provenientes principalmente da história da pintura, em que, não por coincidência, a questão “luz e sombra” se apresenta como elemento central [...] Brilho, reflexo e refração se tornam objeto de estudo e assunto das obras. Na série Cristalização da paisagem, fotografias de paisagens, entre parques, matas fechadas e imagens históricas, se cristalizam. São imagens trabalhadas digitalmente pelo artista para se converterem em geometria e cor. É como se a luz rebatida pela natureza ganhasse corpo e se concretizasse em massas de cristais coloridos, que por vezes se apresentam sutilmente [...] Não há mais perspectiva possível ou ilusão de acesso. A paisagem antes permeável agora é matéria sólida.
Douglas de Freitas. Albano Afonso: Luz encarnada em corpo/corpo evanescido em luz. Casa Bandeirante, São Paulo. 2018
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VÂNIA MIGNONE
(CAMPINAS, BRASIL, 1967)Vânia Mignone é uma das mais impactantes artistas de sua geração. As sutilezas e complexidades das relações cotidianas estão entre os assuntos recorrentes em suas pinturas, a densidade que dá a elas as transformam em escapada criativa aos comportamentos padronizados. A artista faz uso de um sofisticado e misterioso jogo ficcional envolvendo figuras solitárias, palavras, plantas e animais para partilhar o que ainda é sublime na existência humana.
Algumas coisas pegam fogo, circos pegam fogo, suas imagens figuram situações comuns com metáforas precisas que derivam em paisagens de superfícies incertas cujos limites entre os corpos e objetos presentes oscilam. Vânia parece querer nos contar tudo, com sua pintura de gestos e coberturas propositalmente densos e que sabem o exato momento quando devem parar e sinalizar o que importa.
Danillo Villa, 2022
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ANTONIO HENRIQUE AMARAL
(SÃO PAULO, BRASIL, 1935 - 2015)A partir da década de 1980 e até o final de sua vida em 2015, Amaral combinou desenho e pintura em um vai e vem criativo em que nenhum tema ou forma era tratado como tabu. Houve delírios de sexualidade, com anatomias multiplicadas em paisagens neuróticas; combinações de torsos justapostos em cheios e vazios que podiam tanto ser eróticos quanto mórbidos; bocas de cena teatrais ocupados por signos de violência e poder; corações agigantados e absurdamente rubros; objetos que parecem mover-se como animais; seres objetificados como fragmentos de um espaço-tempo sem nome. Nesses exercícios de imaginação, o artista ganhou oportunidade para levar seu manuseio de sombreamentos e relações de claro-escuro até o paroxismo. Ele pode, também, explorar raras combinações cromáticas, em paletas por vezes tão vibrantes e diversificadas que remetem às mais coloridas obras de Tarsila.
Observando o conjunto da obra de Antonio Henrique Amaral é plausível pensá-la como um bestiário expandido no tempo e no espaço: uma sucessão de formas e figuras que desafiam a identificação do humano e sua capacidade de comunicação, ou, de modo complementar, uma paisagem de objetos inanimados que ele impregna de identificação empática. Ainda há muito para descobrir e debater em seu trabalho, nesse momento em que por toda parte se procuram exemplos de obras capazes de resistir tanto aos projetos autoritários em exercício quanto às normatividades que restringem o entendimento do que seja o desejo, a sexualidade e a comunicação.