A formação em arquitetura do artista ainda se explicita em sua concepção de desenho (desígnio) como um agente ativo: o material tem potencial de determinar seu comportamento (vale notar que a musa de longa data do artista, a cidade de São Paulo, também é berço de extremos de industriosidade e hedonismo desbragado). O artista fala de suas esculturas em termos quase sencientes, como produtos do desejo e, ao mesmo tempo, máquinas de produção do desejo. O início é sempre um esboço no papel. Em seguida, o esboço se torna projeto, digital e só então constroem-se os moldes, que em muitos casos sofrem modificações intuitivas em relação ao desenho inicial. Neste processo, há momentos potenciais e momentos de gratificação: o esboço representa a possibilidade de algo estar no mundo; o objeto concluído, a gratificação daquele desejo (o fazer artístico é muito mais imediato do que a arquitetura jamais será). Também há uma profusão de momentos potenciais nas esculturas terminadas: em Fenomenologia do Redondo (para Artemide), protuberâncias voluptuosas vazam da superfície de aço oxidado, talvez prestes a explodir ou a murchar, tristes. Em Dormente 9, um bloco de concreto com pigmento azul equilibra-se precariamente, quase debruçando-se de lado, sobre um esqueleto de aço. Para a exposição, o artista se relacionou, de maneira única em sua trajetória, a pinturas com temas relacionados ao descanso e ao sono: O Sono, em que dois volumes de concreto pendem oscilantes de um suporte de aço, toma emprestado o título de uma letárgica paisagem com palmeiras pintada por Tarsila do Amaral em 1928. Outra referência para o trabalho é Alegoria da Pintura (c. 1620), de Artemisia Gentileschi, que retrata uma mulher nua deitada no chão. Seu corpo está envolto em um pedaço de tecido, entrelaçando-se a ele como em uma dança, assim como o concreto e o aço empregados por Simões. A mulher parece cochilar, de olhos fechados, mas também está cercada de materiais de pintura, o momento do potencial criativo possível, ou possivelmente ultrapassado. Para Giorgio Agamben, o teórico italiano, a tela sonha com sua própria criação, assim como os esboços de Simões sonham com as esculturas que virão a ser. No sono, cresce o potencial para a ação.