Yuri Firmeza: Projeto Ruínas: Casa Triângulo, São Paulo, Brazil
PROJETO RUÍNAS
Projeto Ruínas cria um diálogo direto com a obra que Yuri Firmeza irá mostrar na 31a Bienal de São Paulo: Como falar de coisas que não existem.
Em Turvações Estratigráficas, Firmeza iniciou uma linha de investigação arqueológica, tendo como ponto de partida as obras na área portuária do Rio de Janeiro, o que o levou a interpretar criticamente as recentes mudanças nas políticas fundiárias e a gentrificação, e as consequências desses processos nas políticas de habitação das grandes cidades. Em sua instalação, Firmeza apropriou-se de restos arqueológicos, descobertos durante a reforma da zona portuária do Rio de Janeiro, bem como de entulhos da favela Morro da Providência. Utilizou-os em conjunto com fotografias antigas, vídeos otimistas sobre o Brasil e um vídeo sobre a história de sua avó – que sofre do Mal de Alzheimer –, para chamar atenção sobre o papel que a cultura desempenha nesse contexto.
Assim, a exposição no MAR–Museu de Arte do Rio, revelou a necessidade da participação social direta na definição daquilo que vem a ser o patrimônio arqueológico, como recuperá-lo e renová-lo em dinâmicas e atividades públicas. Como Rafael Borges Deminicis colocou, em Turvações Estratigráficas: “Firmeza criou um campo da arqueologia novo e socialmente relevante: a Arqueologia da Favela”.
No Projeto Ruínas, Yuri Firmeza aborda o crescimento das metrópoles, usando o caso da cidade de Alcântara, no Nordeste do Brasil, como ponto de partida. Com a notícia de que o Imperador do Brasil Dom Pedro II desembarcaria em Alcântara, uma forte rivalidade estabeleceu-se entre os aristocratas, que começaram a construir mansões palacianas para hospedar o imperador. A disputa foi em vão, pois Dom Pedro II jamais pisou naquelas terras. A suspensão das construções e a passagem do tempo transformaram a cidade em um cenário de ruínas centenárias. A Festa do Divino Espírito Santo é realizada ainda hoje na região, como uma celebração do momento rico que Alcântara viveu e, por quinze dias, a população ainda se veste como a nobreza do Brasil monárquico.
Paradoxalmente, é também em Alcântara que se encontra o Centro de Lançamento de Alcântara (base de lançamento de foguetes), o que torna a cidade um importante centro de estudos científicos sobre o futuro da humanidade. Em Alcântara, um passado ancestral convive com as aspirações mais avançadas de um futuro, e o Projeto Ruínas explora essa justaposição.
Juntamente com o arquiteto Artur Cordeiro, Yuri Firmeza desenvolveu três modelos de ruínas, em escala arquitetônica. Assim, ele inverte, metaforicamente, o progresso dos grandes centros urbanos: cria maquetes em pequeno formato de ruínas matematicamente calculadas. Para o artista, quando se trata de ruínas, o material equivale à memória. Presente, passado e futuro participam de outro fluxo temporal, que escapa à linearidade da evolução histórica.
Além das maquetes, Firmeza apresenta vários desenhos arquitetônicos dos modelos, fotografias sobrepostas das ruínas, stills de um filme esmaecido 16 mm de sua avó e um vídeo que anuncia as qualidades do Brasil como anfitrião da Copa do Mundo 2014, compondo uma rede flutuante de temporalidades históricas, políticas e sociais que se entrecruzam e nos atravessam, com o objetivo de produzir um encontro entre vários estratos temporais. Apontando para essas camadas, Yuri Firmeza deixa duas perguntas no ar: o que estamos produzindo em termos de ruínas – em nome do progresso e de cidades idílicas e utópicas – para a posteridade? Tornou-se o presente desarticulado em prol do futuro?