Mariana Palma: Soma: Casa Triângulo, São Paulo, Brasil

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Apresentação

Turbilhão

 

Objeto de meu mais desesperado desejo, faz de mim um instrumento de teu prazer, sim, saiba que toda época de renovação acelerada dos meios de reprodução gráfica estimula o olho armado de tesoura e estilete. É um campo em flor quando a sombra se esvai, é arena de estímulos apalpados, engolidos, cortados, de onde liberto-me ficando teu escravo.

Cavo a direita claridade do céu e agarro o sol com a mão. Ofuscado por imagens e texturas novas, disponho-me a habitar o corpo que de tuas saias sai, fecundá-lo com algo de minha seiva. Então deixa, deixa que a minha mão errante adentre atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.

Olhar-mão-colagem-pintura que quer a presença erótica do segredo coberto de tanto brilho constelado. Lambe olhos, torce cabelos, para quê tanto corpo! Pois se há corpo, que o morto ganhe do falso alguma sobrevida embebida no leite.

Que o fálico brote do cálice, ou a vulva da dobra do caule.

Escorro cores moventes na água; onde cai minha mão, meu selo gravo. Deixo que o pingo amarelo se confunda com a pétala da flor em cacho. Em grinalda cachoeira. Planto diademas e espero o instante em que o todo seja muito mais que as partes. É meio dia, é meia noite, é toda hora. Desperdício, prazer da abundância e exagero do desejo - muito, muito além (e aquém) da elegância discreta.

Acumulo tessituras de mantos mil vezes dobrados sobre si mesmos Quero fazê-los extasiados. Quero que sejam corpo no lugar do corpo que não tenho.

Eu visto, mas ficaria contente se me desses, por instantes apenas e bastantes, a nudez longínqua e de pérola - nudez total!

Todo o prazer provém de um corpo (como a alma sem corpo) sem vestes. A minúcia da pintura seduz e cega como o brilho do sol que tenho na mão. Esqueça a fatura e procure a volúpia. Faça qualquer coisa, mas, pelo amor de deus (ou de nós dois): SEJA.

 

Paulo Miyada