ZÉ TEPEDINO . VENTO CORTA
VENTO CORTA
Uma neblina muda a paisagem.
Após um dia de chuva, como goteira, vento corta.
Toda noite senhores por trás dos seus baralhos, acumulam notas sobre o tempo.
Vento atravessa o horizonte, que insiste em se levantar e vestir as mesmas roupas.
O tempo é braço direito, mas sem ele, vento é manso, brisa, rajada, um golpe do ar.
Quinas parecem dividir, mas o que há de macio acolhe.
Reunidas numa disposição comandada por frestas, ondas ganham luz.
Duras, congelam o barulho de ventilador.
Uma esquina visita outra cidade, que como um braço engessado decide levar apenas o que o corpo lembra.
Enquanto a janela fechava, se despediram. E lá dentro, aos poucos, tudo foi reencontrando seu novo lugar.
NOTA SOBRE A EXPOSIÇÃO
O vento é sutil, muitas vezes imperceptível, assim como muitos dos materiais com os quais escolho trabalhar. No entanto, pela repetição de gestos simples, esses materiais ganham presença e se afirmam no corte—uma marca física e evidente.
A exposição reúne um conjunto de obras recentes que exploram diferentes materialidades, escalas e ritmos, construindo sistemas poéticos em constante diálogo. Elementos corriqueiros se aproximam e se repetem, mas nunca de maneira idêntica.
Muitos trabalhos são atravessados tanto pela ideia de vento—como nas obras com bandeiras—quanto pela ação de cortar, um gesto recorrente.
Assim como o vento, quase invisível, a mostra se revela na relação com o tempo, afirmando sua presença no instante e na memória.